sexta-feira, 1 de abril de 2022

Um dia pode não haver Planeta para haver uma guerra.

Hoje há uma guerra no Planeta. Um dia pode não haver Planeta para haver uma guerra.

Ontem o Covid 19 e hoje a guerra são os acontecimentos que mais recentemente marcaram agenda mediática nacional e internacional, mas indubitavelmente o futuro será marcado por outro flagelo, este mais impactante e decisivo a nível planetário:  a forma como nos relacionamos com o Planeta.

As alterações climáticas são uma realidade e as políticas ambientais que venham a ser implementadas hoje vão determinar o nosso futuro coletivo amanhã.

Por isso os governos atuais têm uma palavra e um papel a desempenhar.

O “Estado da Arte” negativo e insustentável do Planeta deve-se à forma como a raça humana, principalmente após início da era industrial, foi construindo o seu estilo de vida e modelo de desenvolvimento produtivo e económico.

Consumo e imediatismo são marcas desse mesmo estilo de vida, baseado na utilização intensiva de recursos naturais, ainda existentes mas esgotáveis e de utilização poluente.

A perceção generalizada da necessidade de se fazer algo para um futuro mais sustentável é uma realidade.

Hoje, estudos revelam que as pessoas estão mais preocupadas com o ambiente e já perceberam da necessidade em alterar comportamentos e mudar estilos de vida, tudo em nome da preservação ambiental.

A questão é se esta perceção é acompanhada por todos os agentes, designadamente os políticos, que têm a possibilidade e a responsabilidade de facilitar e influenciar caminhos de mudança na sociedade

E a verdade é que não está.

A campanhas e os programas eleitorais dos partidos são disso exemplo. Embora o ambiente seja sempre apresentado como uma grande prioridade estratégica nacional, a verdade é que durante as sucessivas governações a prioridade se esfuma.

Invariavelmente o “verde” é usado para vender mas rapidamente com a mesma rapidez é esquecido.

Pergunto quantas iniciativas legislativas, quantos projetos de lei foram apresentados na última legislatura?

Poucos ou mesmo nenhuns.

No entanto vimos o costume, um PS a sublinhar a construção de um aeroporto de costas viradas à preservação ambiental no Montijo, à teimosia na exploração de lítio contra a vontade das populações ou a inexistência de uma política nacional clara de reflorestamento ou reordenamento florestal, entre outras matérias fulcrais nos dias de hoje.

Infelizmente os nossos dirigentes políticos teimam em não querer perceber que estamos perante uma emergência climática e adiam medidas urgentes para o futuro de todos nós.

Na minha opinião fazem-no essencialmente porque o Ambiente não dá votos imediatos.

Por isso durante as campanhas eleitorais, “vende-se” a preocupação ambiental porque fica bem e promete-se mundos e fundos para agarrar um eleitorado mais jovem e mais sensível à sustentabilidade. Depois percebe-se que o tempo das medidas ambientais são diferentes dos tempos políticos e eleitorais, porque os seus efeitos têm efeitos a médio e longo prazo, prazos que não se coadunam com o ciclo dos votos.

A nível estrutural tudo piora.

Embora Portugal tenha um passado longo ligado à preservação do ambiente, através da sociedade civil, nunca institucionalmente o ambiente teve uma real representação política, partidária ou parlamentar.

Vejamos: os Verdes sempre foram um satélite à sombra do PCP, sem autonomia, sem influencia e onde o ambiente era tema quando e se o PCP quisesse. Fruto desta subserviência, hoje nem representação parlamentar têm.

O PAN surgiu como uma esperança no sistema político português, apresentando-se como uma força defensora do ambiente e das suas causas, mas o episódio das estufas, ferio-o de morte e hoje mais não é que uma força sem expressão nem influencia no país.

Restam os chamados grande partidos tradicionais que pelo já referido nunca viram o ambiente como bandeira.

Talvez, embora não seja um grande partido, o Bloco de Esquerda aqui ou ali o tenha feito, mas com a perda de expressão nas eleições de 2022, perde também essa possibilidade de marcar a diferença, que aliás na verdade também nunca marcou para lá do campo discursivo.

Mas a esperança essa sim é verde e a última morrer.

O PS governa os próximos 4 anos e meio em maioria absoluta. Tem todas as possibilidades políticas e as ferramentas financeiras, via PRR, para fazer o que é necessário. A história, o futuro e os portugueses não lhes perdoarão se se perder mais esta oportunidade para reformar o país no caminho de uma economia e um modelo de desenvolvimento mais verde e mais sustentável.

Cabe-nos sermos exigentes na implementação de novos paradigmas económicos e produtivos, na tomada de medidas de apoio às empresas na transição de modelos baseados nos combustíveis fosseis para energias renováveis, na promoção junto dos particulares de novos comportamentos, promovendo a economia circular, mais e melhor gestão de resíduos, um uso mais racional da água e a adoção de estilos de vidas mais sustentável no consumo e na mobilidade.

Não podemos exigir menos que isso em nome do futuro das próximas gerações.

Pedro Miguel Martins

 

 

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