Não
nutro nenhuma admiração por Augusto Santos Silva.
O
seu trabalho como governante foi inócuo e como Ministro dos Negócios
Estrangeiros a única coisa que não passou despercebida foi uma certa arrogância
e prepotência discursiva e uma atitude a roçar o jocoso, que alias se revelou nalgumas
intervenções públicas e privadas em que foi apanhado a ser…. Genuíno.
É
um político com protagonismo, mas que passou despercebido e não se conhece grandes
feitos. Limita-se a estar na praça pública, a não entrar em polémicas, a não
levantar ondas, mas também não trazendo uma mais valia qualitativa ao país.
No
que considero ser necessário Santos Silva não reúne as condições necessárias e
só é Presidente da AR porque António Costa decidiu atribuir-lhe o prémio
carreira, assim como nos Óscares ou Globos de Ouro.
Mas
calma se Democracia sobreviveu a Ferro Rodrigues, sobreviverá a Santos Silva.
O
início é promissor. A intervenção de tomada de posse deixou-nos já um daqueles tesourinhos,
que deixam antever um Santos Silva do Quero Posso e Mando ou do Aqui Mando Eu.
Ao
reservar o seu discurso inicial a “malhar” na direita, não na direita subversiva
dentro do PS como gosta, mas na direita eleita democraticamente, começa mal e
piora quando afirma que não permitirá certas intervenções na Assembleia da República.
Como?
Mas
desde quando um deputado, no uso dos seus direitos parlamentares, e da sua Liberdade
de expressão, não pode intervir da forma e sobre o que entender?
Mesmo
que não concordemos ou as suas palavras nos repugnem, com que direito se arrogam
alguns, invariavelmente de esquerda, em decidir o que pode ou não pode ser dito
na casa da Democracia?
Alias,
quantas vezes no passado nos repugnaram as intervenções do Bloco, as promessas
não cumpridas do PS ou o branqueamento do PCP a regimes comunistas ditatoriais
e tivemos de aguentar?
Alguém
os mandou calar ou silenciar? Não, claro que não. Ouvimos, rejeitamos e
combatemos.
Quem
ousa achar-se como uma espécie de provedor da liberdade de expressão ou dotado
de uma superioridade democrática e moral, impondo a sua visão do que é mais ou
menos democrático, não está longe dos ditadores que nos impelem ao pensamento único.
Quando
esquecermos isto, como muitos pretendem fazer, estamos a prestar um mau serviço
à democracia e a renegá-la.
O
ambiente político hoje é diferente, é mais colorido, multi discursivo e com
protagonistas com ideias diferentes.
Já
o referi e reitero, porque não tenho receio do nome das coisas: o Chega e as
suas ideias não nos devem assustar. O que nos deve assustar é se a Democracia dá
ou não resposta aos anseios das pessoas, porque é essa não resposta que promove
os nacionalismos, extremismos e populismos.
Santos
Silva optou por iniciar os trabalhos a ostracizar o Chega quando devia, isso sim
sublinhar as funções de acompanhamento, fiscalização e supervisão do parlamento.
Funções
estas, hoje, mais necessárias do que nunca perante um governo com maioria
absoluta que deixa antever ter alguma facilidade em abusar do poder maioritário
que tem.
Isso
sim teria sido um bom serviço ao parlamento e em defesa dos portugueses.
No
entanto Santos Silva, tomou outro caminho e fê-lo de forma consciente.
Santos
Silva será um Presidente político, socialista e parcial e revelou isso mesmo nas
suas palavras.
O
que fez foi usar a Presidência da Casa da democracia para executar a estratégia
do PS para esta legislatura: atacar o Chega, não por aquilo que defende ou
representa, mas para lhe dar palco e protagonismo, no propósito de isso retirar
espaço político ao PSD e à Iniciativa Liberal.
Uma
realidade a que o PSD, prestes a entrar em período eleitoral tem de estar
atento.
A
sua estratégia futura não pode alhear-se da existência do Chega e da Iniciativa
Liberal.
Na
construção do seu espaço de oposição e de alternativa de poder o PSD tem que,
tal como o PS está a fazer, ter uma visão integrada, contando com todos os
player´s, mas nunca caindo na tentação de se descaracterizar como social
democrata.
Termino
com uma frase de Voltaire: Posso não concordar com nenhuma das palavras que
você disser, mas defenderei até à morte o direito de as poderes dizer.
Pedro
Miguel Martins
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