quarta-feira, 30 de março de 2022

Se a Democracia sobreviveu a Ferro Rodrigues, sobreviverá a Santos Silva

Não nutro nenhuma admiração por Augusto Santos Silva.

O seu trabalho como governante foi inócuo e como Ministro dos Negócios Estrangeiros a única coisa que não passou despercebida foi uma certa arrogância e prepotência discursiva e uma atitude a roçar o jocoso, que alias se revelou nalgumas intervenções públicas e privadas em que foi apanhado a ser…. Genuíno.

É um político com protagonismo, mas que passou despercebido e não se conhece grandes feitos. Limita-se a estar na praça pública, a não entrar em polémicas, a não levantar ondas, mas também não trazendo uma mais valia qualitativa ao país.

No que considero ser necessário Santos Silva não reúne as condições necessárias e só é Presidente da AR porque António Costa decidiu atribuir-lhe o prémio carreira, assim como nos Óscares ou Globos de Ouro.

Mas calma se Democracia sobreviveu a Ferro Rodrigues, sobreviverá a Santos Silva.

O início é promissor. A intervenção de tomada de posse deixou-nos já um daqueles tesourinhos, que deixam antever um Santos Silva do Quero Posso e Mando ou do Aqui Mando Eu.

Ao reservar o seu discurso inicial a “malhar” na direita, não na direita subversiva dentro do PS como gosta, mas na direita eleita democraticamente, começa mal e piora quando afirma que não permitirá certas intervenções na Assembleia da República.

Como?

Mas desde quando um deputado, no uso dos seus direitos parlamentares, e da sua Liberdade de expressão, não pode intervir da forma e sobre o que entender?

Mesmo que não concordemos ou as suas palavras nos repugnem, com que direito se arrogam alguns, invariavelmente de esquerda, em decidir o que pode ou não pode ser dito na casa da Democracia?

Alias, quantas vezes no passado nos repugnaram as intervenções do Bloco, as promessas não cumpridas do PS ou o branqueamento do PCP a regimes comunistas ditatoriais e tivemos de aguentar?

Alguém os mandou calar ou silenciar? Não, claro que não. Ouvimos, rejeitamos e combatemos.

Quem ousa achar-se como uma espécie de provedor da liberdade de expressão ou dotado de uma superioridade democrática e moral, impondo a sua visão do que é mais ou menos democrático, não está longe dos ditadores que nos impelem ao pensamento único.

Quando esquecermos isto, como muitos pretendem fazer, estamos a prestar um mau serviço à democracia e a renegá-la. 

O ambiente político hoje é diferente, é mais colorido, multi discursivo e com protagonistas com ideias diferentes.

Já o referi e reitero, porque não tenho receio do nome das coisas: o Chega e as suas ideias não nos devem assustar. O que nos deve assustar é se a Democracia dá ou não resposta aos anseios das pessoas, porque é essa não resposta que promove os nacionalismos, extremismos e populismos.

Santos Silva optou por iniciar os trabalhos a ostracizar o Chega quando devia, isso sim sublinhar as funções de acompanhamento, fiscalização e supervisão do parlamento.

Funções estas, hoje, mais necessárias do que nunca perante um governo com maioria absoluta que deixa antever ter alguma facilidade em abusar do poder maioritário que tem.

Isso sim teria sido um bom serviço ao parlamento e em defesa dos portugueses.

No entanto Santos Silva, tomou outro caminho e fê-lo de forma consciente.

Santos Silva será um Presidente político, socialista e parcial e revelou isso mesmo nas suas palavras.

O que fez foi usar a Presidência da Casa da democracia para executar a estratégia do PS para esta legislatura: atacar o Chega, não por aquilo que defende ou representa, mas para lhe dar palco e protagonismo, no propósito de isso retirar espaço político ao PSD e à Iniciativa Liberal.

Uma realidade a que o PSD, prestes a entrar em período eleitoral tem de estar atento.

A sua estratégia futura não pode alhear-se da existência do Chega e da Iniciativa Liberal.

Na construção do seu espaço de oposição e de alternativa de poder o PSD tem que, tal como o PS está a fazer, ter uma visão integrada, contando com todos os player´s, mas nunca caindo na tentação de se descaracterizar como social democrata.

Termino com uma frase de Voltaire: Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até à morte o direito de as poderes dizer.

 

Pedro Miguel Martins


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