sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A Rússia está de volta.

Depois de uma aparente acalmia e coexistência pacífica entre as principais potências mundiais, os últimos acontecimentos na Ucrânia mostram que a Rússia está de volta.

O que está em jogo, mais do que a invasão a um país soberano, é a desejo de Vladimir Putin reforçar o seu posicionamento geopolítico e geoestratégico.

Depois da queda do império soviético, na década de 90, a Rússia fragilizada perdeu influência política e económica no mundo, mas como muitos diziam: “o mostro está adormecido mas não morto” e desde ai a Rússia modernizou umas forças armadas, que estavam obsoletas, especializou-se em ciber-ataques e assume-se como o principal fornecedor de gás natural à Europa.

No fundo criou condições, embora não pelos melhores motivos, para hoje se sentir com legitimidade de voltar ao xadrez da Ordem Política Mundial.

E é aqui que entra a Ucrânia

Os objectivos russos na Ucrânia não são de invasão, não são económicos nem Putin pretende aumentar o seu território. Os objectivos são políticos.

A Rússia não quer a guerra, porque Putin sabe que o preço interno que iria pagar seria muito alto, quer na sua popularidade, quer a nível económico, na credibilidade exterior, nas sanções que seriam impostas pela comunidade internacional e nos danos previsíveis como fornecedor de gás natural à Europa.

O que Putin quer, como autocrata que é, é ser tido em conta nas grandes decisões mundiais e ao mesmo tempo fragilizar e minar as democracias liberais, o ocidente e as suas instituições, assim como, legitimamente, aumentar a sua área de influência e manter o mais longe possível, das suas fronteiras, a influência da NATO.


Mas o que é errado à luz do direito internacional, é a Rússia tentar atingir os seus intentos usando o medo, ameaçando estados soberanos e independentes com uma eventual intervenção militar, com consequência económicas e humanitárias, que ninguém consegue prever.

É uma posição de chantagem internacional inaceitável.

Entretanto vive-se um impasse e uma situação perigosa.

Os russos, por muitas que sejam as desvantagens numa incursão no território ucraniano, são imprevisíveis e podem muito bem, através de uma bandeira que não a sua, encontrar pretexto para intervir. A ação de grupos separatistas pró russos, patrocinada por Putin, pode muito bem ser uma ferramenta, um rastilho, para argumentar uma ação russa.

Deus queira que não e que, em nome da paz e do direito internacional, seja através da via diplomática e na mesa das negociações que esta situação se resolva ou pelo menos, como é mais provável, se “congele” ao longo do tempo.

Aqui a questão é como?

Está claro que nem a Rússia nem o Ocidente vão abdicar dos seus interesses e ambos mostraram, de tal forma, posições de força, que não é fácil saírem disto como derrotados.

Ninguém vai querer ceder e é preciso encontrar uma forma de ambos sairem de face lavada, com perdas, mas também com ganhos que possam potenciar nas suas esferas internas e que pelo menos de forma aparente não diminuam sua influência.

Neste processo, os Russos como sempre revelaram um sentido estratégico e tático ímpar e goste-se ou não, as soluções têm de ter isso em conta.

Putin não pode sair a perder tudo e o ocidente também não.

É um equilíbrio difícil de atingir e onde o ocidente não tem grande margem de manobra o que o levará a ceder a algumas exigências russas (não adesão da Ucrânia à Nato) e declinar outras (diminuição da presença militar da Nato no continente europeu) e os russos farão o mesmo cedendo por exemplo na renegociação dos tratados de Minsk ou na retirada das forças militares nas fronteiras com a Ucrânia.

A Rússia, como ator internacional que sempre foi, sabe como se joga este jogo: exigir muito, para conseguir o que verdadeiramente é importante na salvaguarda dos seus interesses.

Aguardaremos na esperança que esta situação não descambe e que Putin e Biden sejam racionais, percebam que ninguém ganha com um conflito e que a Paz é sempre melhor que a guerra entre os Homens.

 








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