Depois de uma aparente acalmia e coexistência pacífica
entre as principais potências mundiais, os últimos acontecimentos na Ucrânia
mostram que a Rússia está de volta.
O que está em jogo, mais do que a invasão a um país
soberano, é a desejo de Vladimir Putin reforçar o seu posicionamento
geopolítico e geoestratégico.
Depois da queda do império soviético, na década de 90, a
Rússia fragilizada perdeu influência política e económica no mundo, mas como
muitos diziam: “o mostro está adormecido mas não morto” e desde ai a Rússia modernizou
umas forças armadas, que estavam obsoletas, especializou-se em ciber-ataques e
assume-se como o principal fornecedor de gás natural à Europa.
No fundo criou condições, embora não pelos melhores
motivos, para hoje se sentir com legitimidade de voltar ao xadrez da Ordem Política
Mundial.
E é aqui que entra a Ucrânia
Os objectivos russos na Ucrânia não são de invasão, não são
económicos nem Putin pretende aumentar o seu território. Os objectivos são políticos.
A Rússia não quer a guerra, porque Putin sabe que o preço interno que iria pagar seria muito alto, quer na sua popularidade, quer a nível económico, na credibilidade exterior, nas sanções que seriam impostas pela comunidade internacional e nos danos previsíveis como fornecedor de gás natural à Europa.
O que Putin quer, como autocrata que é, é ser tido em
conta nas grandes decisões mundiais e ao mesmo tempo fragilizar e minar as
democracias liberais, o ocidente e as suas instituições, assim como,
legitimamente, aumentar a sua área de influência e manter o mais longe possível,
das suas fronteiras, a influência da NATO.
Mas o que é errado à luz do direito internacional, é a Rússia tentar atingir os seus intentos usando o medo, ameaçando estados soberanos e independentes com uma eventual intervenção militar, com consequência económicas e humanitárias, que ninguém consegue prever.
É uma posição de chantagem internacional inaceitável.
Entretanto vive-se um impasse e uma situação perigosa.
Os russos, por muitas que sejam as desvantagens numa
incursão no território ucraniano, são imprevisíveis e podem muito bem, através
de uma bandeira que não a sua, encontrar pretexto para intervir. A ação de
grupos separatistas pró russos, patrocinada por Putin, pode muito bem ser uma
ferramenta, um rastilho, para argumentar uma ação russa.
Deus queira que não e que, em nome da paz e do direito
internacional, seja através da via diplomática e na mesa das negociações que
esta situação se resolva ou pelo menos, como é mais provável, se “congele” ao
longo do tempo.
Aqui a questão é como?
Está claro que nem a Rússia nem o Ocidente vão abdicar
dos seus interesses e ambos mostraram, de tal forma, posições de força, que não
é fácil saírem disto como derrotados.
Ninguém vai querer ceder e é preciso encontrar uma forma
de ambos sairem de face lavada, com perdas, mas também com ganhos que possam
potenciar nas suas esferas internas e que pelo menos de forma aparente não diminuam
sua influência.
Neste processo, os Russos como sempre revelaram um
sentido estratégico e tático ímpar e goste-se ou não, as soluções têm de ter
isso em conta.
Putin não pode sair a perder tudo e o ocidente também
não.
É um equilíbrio difícil de atingir e onde o ocidente não
tem grande margem de manobra o que o levará a ceder a algumas exigências russas
(não adesão da Ucrânia à Nato) e declinar outras (diminuição da presença
militar da Nato no continente europeu) e os russos farão o mesmo cedendo por
exemplo na renegociação dos tratados de Minsk ou na retirada das forças militares
nas fronteiras com a Ucrânia.
A Rússia, como ator internacional que sempre foi, sabe
como se joga este jogo: exigir muito, para conseguir o que verdadeiramente é
importante na salvaguarda dos seus interesses.
Aguardaremos na esperança que esta situação não descambe
e que Putin e Biden sejam racionais, percebam que ninguém ganha com um conflito
e que a Paz é sempre melhor que a guerra entre os Homens.
Sem comentários:
Enviar um comentário