sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Rússia: os factos estão consumados

 Os factos estão consumados.

A Rússia que estava só em exercícios militares invadiu a Ucrânia e o ocidente encurralado e economicamente calculista deixou, mais uma vez, os Ucranianos sozinhos e à sua própria sorte. 

O 1º facto é um atropelo ao direito internacional, o 2º justifica uma reflexão, da União Europeia, das Nações Unidas e da Nato, porque todos falhámos redondamente na defesa de um país soberano, independente e democrático.

A 1ª fase do plano russo está quase conseguida: entrar em Kiev e decapitar o poder político, eleito democraticamente, para instalar no governo um amigo de Putin, um dirigente pró russo, um vassalo que sob a orientação da Duma desmilitarize a Ucrânia, evite a entrada da Ucrânia na União e na Aliança Atlântica, embora isso sempre tenha sido, e Putin sabia-o, um não argumento, porque a unanimidade necessária entre os atuais estados membros era difícil de garantir e nenhum país pode aderir a esta organização com a existência de conflitos sobre as suas fronteiras.

Quem ouviu as palavras de Putin não pode deixar de estar preocupado. O ocidente não pode continuar a basear as suas decisões numa racionalidade russa que Putin não tem, nem numa estimada avaliação de custo beneficio para a Rússia.

Como disse um ministro russo eles estão cagando para as sanções e eu acrescento que são indiferentes ao sofrimento que o seu povo venha sentir com estas, por mais fortes que sejam. E aqui é desejável haver inteligência. As sanções não devem vir a sancionar quem sanciona e devem ser cirúrgicas e canalizadas para a oligarquia russa, para os amigos de Putin, os seus negócios, investimentos, linhas de financiamento.

A Rússia está preparada para as tradicionais, ainda que mais fortes, sanções económicas, além de que no final do dia têm o respaldo da China, da Índia e do Brasil (ainda que conte pouco neste baralho) e a dependência, à qual a Europa se deixou cair a nível energético e de recursos.

Para além de irracional, Putin é um ditador, oligarca, extremista de direita, ultra capitalista irracional e ultra nacionalista que tem um plano mais ousado. Como alguém disse é um ditador do séc. XIX a viver no séc. XXI, com a agravante de se sentar em cima de 6.000 ogivas nucleares que já ameaçou utilizar caso “alguém se meter neste conflito”.

A Ucrânia foi o argumento, a Europa o palco, mas o objetivo central é a Ordem Mundial, a restauração do império soviético e a afirmação da Rússia como potência dominante a nível global, o que sendo legitimo àqueles que impérios são, não pode o ocidente ficar quieto quando essa afirmação é feita pelo medo, pela ameaça, pela chantagem, pela intervenção militar e perda de vidas. É a democracia que está em causa.

A questão é complexa e todas as possibilidades têm de ser colocadas em cima da mesa. A única certeza que temos é que o monstro acordou e não ficará por aqui.

De exercícios militares passamos para ação de manutenção de paz, desta passamos para ataques de anulação às defesas ucranianas (como se isso fosse legitimo), disto passamos já para a entrada em Kiev. Não podemos acreditar em Putin pois a cada momento fará o que entender para atingir os seus propósitos que aumentarão mediante a resposta do resto do mundo.

E é aqui que nos encontramos.

Putin tem de ser travado e a questão é como e se as sanções, por mais fortes que sejam demoverão o Kremlin na sua demanda expansionista.

Dizem que eventualmente o que parará a Rússia é o prolongamento do conflito e com ele um infeliz aumento de jovens russos mortos. Tenho dúvidas. Continuamos a considerar Putin segundo o nosso prisma, mas não creio que o seu povo e a perda de vidas humanas russas o preocupem muito.

O ocidente tem de agir, tem de mostrar força, tem de ter uma capacidade de dissuadir e evitar que este conflito se arraste para lá das fronteiras da Ucrânia, porque esta já demos por perdida. Ainda assim a Ucrânia tem de ser ajudada e a Europa tem essa obrigação. 

Obrigação de acolher refugiados e ajudar no terreno, a nível humanitário, médico e no reforço das suas estruturas defensivas.

Uma intervenção militar diretamente à Rússia, está fora de questão. Se tal acontecesse eclodiria um conflito de proporções inimagináveis. De qualquer forma a Nato não pode, as Nações Unidas não conseguem e a Europa não quer.

Mas também não podemos ficar reféns de Putin. Não é tempo de o ocidente continuar frouxo, fraco, complacente a acreditar eternamente na diplomacia e a optar pelo menor dos males como forma de garantir uma Paz que o outro lado não quer, não deseja e quebrou.

Falhamos anos a fio. Deixámos a Rússia preparar-se e fechámos os olhos às intervenções unilaterais, na Crimeia, na Ossetia, na Transnístria, no Donbass. Deixámos que reflorescesse o espírito do grande império e com isso um sentimento expansionista.

Deixámo-nos encurralar. Já fomos ameaçados, chantageados, enganados, ludibriados. Até quando vamos permitir? E se permitirmos até onde irá Putin?

 


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