quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Considerações Pós Legislativas

A estratégia de António Costa funcionou na perfeição.

Tudo começou em 2015, quando António Costa e o PS viram, na falta de maioria parlamentar do PSD, que tinha acabado de ganhar eleições, uma janela de oportunidade para, quebrando a tradição do: quem ganha eleições forma governo matar vários coelhos numa cajadada só.

Para isso e para se fazer Primeiro Ministro, António Costa, secundado por aqueles que viriam a ser os seus companheiros de route, Bloco e PCP afirma como objectivo central: tirar a direita do poder a qualquer custo e garantir um governo estável. Sendo o regime português parlamentarista, o casamento fez-se mesmo com o país olhava espantado.

Nasce a geringonça.



O 1º objectivo da estratégia estava conseguido, António Costa era Primeiro-Ministro. Daí para a frente a arte e o engenho político fizeram o resto. Durante os 4 anos seguintes manteve o Bloco e o PCP em banho-maria, tal era a amarração e tais seriam os danos, para estes, se quebrassem os acordos assumidos.

No entanto cedo perceberam, 1º o Bloco e mais tarde o PCP, que a vassalagem prestada ao PS não só não lhes trazia vantagens eleitorais, como não garantia que as suas principais exigências fossem atendidas, no campo das políticas de crescimento, do trabalho e do rendimento.

Começa a avaliação de danos e o inicio da reversão política  da situação, sempre com António Costa por cima, a gerir timings e a manobrar o jogo político. Teve sempre tudo controlado.

No orçamento de 2021 o Bloco quebra o apoio e no orçamento de 2022 o PCP segue-lhe os passos. 

Quebra-se a geringonça, dá-se o divórcio.

Um divórcio desejado por todas as partes, porque nem o Bloco, nem o PCP (a perder eleitorado e espaço de manobra) mas acima de tudo nem o PS (mortinho para ir a votos) fizeram muita força para que o orçamento 2022 fosse aprovado e com isso se evitasse eleições antecipadas. Acresce que o Presidente da República rápido se apressou a apadrinhar esta situação, sublinhando que dissolveria automaticamente a Assembleia da República, como acabou por suceder.

O 2º objectivo da estratégia PS estava conseguido: ir a eleições quando a conjuntura lhe era favorável: direita fragmentada, oposição ténue, esquerda atarantada e um Gouveia e Mello que o safou das agruras da pandemia.

O trabalho mais difícil estava feito e por muito que, por momentos, se tivesse pensado que Portugal é só Lisboa e Coimbra e que o PSD poderia ombrear com o PS, a verdade é que o processo tinha, nos interesses do PS, sido bem conduzido e só com muita estranheza perderia as eleições.

Naquilo que verdadeiramente importa, o PS percebeu em 2015 que quer o PSD quer o CDS-PP teriam grandes dificuldades de nos anos futuros se livrarem da governação que foram obrigados a fazer durante a troika. 


É verdade que foi uma governação imposta por um memorando de entendimento negociado pelo PS num cenário de bancarrota provocado igualmente por uma governação socialista, mas fatos são fatos, era o PSD e o CDS que lá estavam e isso ia, como se verificou, pagar-se caro.

Percebeu também, que em Portugal, com os tradicionais anos de atraso, iriam surgir novas formações partidárias á direta e que isso acabaria por fragmentar o eleitorado tradicionalmente do PSD e do CDS.

E percebeu por fim que tendo o Bloco e o PCP amarrados numa geringonça, isso lhes retirava espaço de atuação e consequentemente eleitorado, por dificuldades nestes dois partidos de manterem as suas tradicionais bandeiras por um lado e a contestação na rua, por outro e quando perceberam isso e quiseram reverter foi tarde de mais.

No meio disto tudo a única força política que podia por em causa esta estratégia era o PSD. Um PSD, que por escolha legitima dos militantes, tomou as decisões que entendeu em torno da sua liderança. Um PSD sem estratégia e a fazer uma oposição errónea. O PSD do fim dos debates quinzenais, da caça as bruxas na Maçonaria, do Conselho Superior da Magistratura e do velado apoio ao governo sempre que na opinião do líder o Interesse Nacional, o justificasse. 

Rui Rio foi um líder responsável e credível, mas não chegou. Rui Rio não conseguiu, e na politica isso é fundamental, vender um sonho a Portugal e muito menos conseguiu livrar o seu partido da memoria da governação da troika. E para isso só havia um caminho. Responsabilizar o governo do PS, do qual António Costa foi nº2, pelo sucedido e apresentar um modelo claro e alternativo de desenvolvimento.

Não aconteceu e com tudo isto o caminho a uma vitória, mais ou menos expressiva do PS, estava aberto.



Acresce que o PS sai-se bem da gestão da pandemia, muito pelo sucesso do mplano de vacinação e politicamente capitaliza o voto útil à esquerda, secando completamente o Bloco de Esquerda e o PCP, com a ajuda das sondagens, tracking poll´s e empates técnicos, que no fim do dia jogaram a seu favor.

Já a direita e o PSD não teve capacidade de congregar o eleitorado que veio da abstenção e do falecimento do CDS-PP, fugindo estes para o Chega e Iniciativa Liberal.

O PSD não falou para um eleitorado que queria votar na direita, mas não num PSD que levantava a possibilidade de viabilizar um governo de esquerda e que nunca se negou a um Bloco Central.

O PSD foi por uma estratégia de campanha errada, focalizada no centro.

Rui Rio e o PSD perderam por ai o voto útil que poderia ter sido capitalizado se se tivesse assumido como o elo congregador da direita.

E convenhamos que por mais responsáveis que sejamos, por mais sentido de Estado e de Interesse Nacional que assumamos, não podemos dizer, num país onde os salários são uma miséria que os seu aumento está dependente do crescimento da economia e que talvez daqui a dois anos seja possível

Com tudo isto o 3º objectivo do PS estava conseguido. Ganhar as eleições, sendo que a maioria absoluta foi um bónus que Costa, julgo sinceramente não esperava.

O 4º objectivo, assumir um cargo europeu, está por atingir mas em andamento.

Em conclusão, António Costa nunca foi o Primeiro Ministro que Portugal precisava, mas nestes anos revelou-se um exímio estratega e percebeu que para se manter no topo do poder é preciso previsão, noção da realidade, argúcia e estratégia.

Pensem Nisso!

Grato.


 

2 comentários:

Paulo Bernardo e Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Bernardo e Sousa disse...

Concordo na íntegra!