Com 385 mil votos, o Chega deixou de ser um partido de um homem só, para ser o 3º maior grupo parlamentar da Assembleia da República, ganhando, por direito próprio, espaço na vida política portuguesa.
Se partilho das ideias do Chega? Não
Se gostava de ser governado pelo
ou com o apoio do Chega? Não
Se o Chega põe ou pode vir a por,
em causa a Democracia? Hoje não, mas no futuro pode.
Por isso é essencial que todos,
desde os partidos, á comunicação social, passando por cada um de nós,
percebamos a forma mais correta de lidar com o Chega, para evitar o seu
crescimento no futuro.
Em 1º lugar, respeitando-os.
Por muito que se discorde do que defende, o Chega é hoje uma certeza fruto do apoio de 385 mil votos e em democracia não há votos de 1ª e votos de 2ª.
Por isso o caminho da ostracização, da
indiferença ou do desprezo só lhes vai dar mais força.
Se não assumirmos isto e tratarmos o Chega e os seus deputados, do alto de uma pseuda moralidade democrática, considerando os seu protagonistas e apoiantes como indignos, mentecaptos e estúpidos como vi jornalistas e comentadores a fazer em dois debates televisivos, já pós eleições, estaremos a promover o seu acantonamento, vitimização e a abrir a porta ao reforço da sua característica de protesto e partido de anti sistema.
Em 2º lugar tratando-os de igual
para igual, trazendo-os á discussão pública, não para os adjectivar de “suínos fascistas”
mas para contrapor as suas ideias, seja na Assembleia da República, nos debates
ou no comentário televisivo. Será sempre preferível a argumentação e discussão, dentro das regras democráticas do
que a contestação violenta nas ruas.
É a Castração Química? Prisão
Perpétua, Alteração da Constituição? RSI? Ciganos? Vamos a isto, caberá aos protagonistas
políticos vincarem a convicção e o mérito dos seus argumentos contra essas ideias
e propostas.
Em 3º lugar dar resposta ao
eleitorado que votou Chega.
Vejamos, grande parte deste eleitorado,
não votou Chega por se rever nas ideias de André Ventura, mas por estar
descontente e não confiar que os políticos atuais tenham a capacidade de responder aos seus anseios, expetativas
e acima de tudo aos seus problemas.
É preciso perceber isso e dar
essas respostas e neste particular, os partidos tradicionais tem uma palavra decisiva
a dizer, principalmente o PS e o PSD.
O PS porque hoje governa com maioria absoluta e tem a faca, o queijo e diria o prato na mão para fazer o que é preciso e avançar com as reformas que o país necessita e com isso reduzir desigualdades, valorizar rendimentos e diminuir a carga fiscal, em suma recolocar Portugal na senda do crescimento e com isso esvaziar um Chega que se alimenta das fragilidades e injustiças sociais.
Eles continuarão a defender as mesmas
ideias, o eleitorado é que sentindo que o regime democrático dá respostas e
resolve, afasta-se gradualmente delas.
O PSD, porque tem, como partido
de centro direita essa obrigação, direi até essa missão.
O PSD tem, no caminho de
reflexão que se propôs realizar pós eleições, de construir um projeto de
crescimento em que os portugueses, se revejam, renovando-lhes a esperança num futuro
melhor e nuns país mais desenvolvido. Com isto agregará, muito do eleitorado que
votou Chega e Iniciativa Liberal, não pelo que defendem, mas por não reverem no PSD
uma alternativa credível de centro direita.
Se lidarmos desta forma não há
que ter medo nem do Chega, nem das suas ideias nem da sua normalização como
realidade política.
Eu costumo dizer: Não há que ter
medo dos partidos anti democráticos e anti sistema, sejam de direita ou
esquerda. Há sim que ter medo se os partidos moderados, as instituições, em
suma a Democracia continuar a não dar as respostas necessárias ás pessoas,
abrindo assim espaço para uma maior adesão a ideias extremistas e anti sistema.
Pedro Miguel Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário