Hoje há uma guerra no Planeta. Um dia
pode não haver Planeta para haver uma guerra.
Ontem o Covid 19 e hoje a guerra são
os acontecimentos que mais recentemente marcaram agenda mediática nacional e
internacional, mas indubitavelmente o futuro será marcado por outro flagelo,
este mais impactante e decisivo a nível planetário: a forma como nos relacionamos com o Planeta.
As alterações climáticas são uma
realidade e as políticas ambientais que venham a ser implementadas hoje vão
determinar o nosso futuro coletivo amanhã.
Por isso os governos atuais têm uma palavra
e um papel a desempenhar.
O “Estado da Arte” negativo e insustentável
do Planeta deve-se à forma como a raça humana, principalmente após início da
era industrial, foi construindo o seu estilo de vida e modelo de
desenvolvimento produtivo e económico.
Consumo e imediatismo são marcas
desse mesmo estilo de vida, baseado na utilização intensiva de recursos
naturais, ainda existentes mas esgotáveis e de utilização poluente.
A perceção generalizada da
necessidade de se fazer algo para um futuro mais sustentável é uma realidade.
Hoje, estudos revelam que as pessoas
estão mais preocupadas com o ambiente e já perceberam da necessidade em alterar
comportamentos e mudar estilos de vida, tudo em nome da preservação ambiental.
A questão é se esta perceção é acompanhada
por todos os agentes, designadamente os políticos, que têm a possibilidade e a responsabilidade
de facilitar e influenciar caminhos de mudança na sociedade
E a verdade é que não está.
A campanhas e os programas eleitorais
dos partidos são disso exemplo. Embora o ambiente seja sempre apresentado como
uma grande prioridade estratégica nacional, a verdade é que durante as
sucessivas governações a prioridade se esfuma.
Invariavelmente o “verde” é usado para
vender mas rapidamente com a mesma rapidez é esquecido.
Pergunto quantas iniciativas legislativas,
quantos projetos de lei foram apresentados na última legislatura?
Poucos ou mesmo nenhuns.
No entanto vimos o costume, um PS a
sublinhar a construção de um aeroporto de costas viradas à preservação
ambiental no Montijo, à teimosia na exploração de lítio contra a vontade das
populações ou a inexistência de uma política nacional clara de reflorestamento
ou reordenamento florestal, entre outras matérias fulcrais nos dias de hoje.
Infelizmente os nossos dirigentes políticos
teimam em não querer perceber que estamos perante uma emergência climática e
adiam medidas urgentes para o futuro de todos nós.
Na minha opinião fazem-no
essencialmente porque o Ambiente não dá votos imediatos.
Por isso durante as campanhas eleitorais,
“vende-se” a preocupação ambiental porque fica bem e promete-se mundos e fundos
para agarrar um eleitorado mais jovem e mais sensível à sustentabilidade.
Depois percebe-se que o tempo das medidas ambientais são diferentes dos tempos políticos
e eleitorais, porque os seus efeitos têm efeitos a médio e longo prazo, prazos
que não se coadunam com o ciclo dos votos.
A nível estrutural tudo piora.
Embora Portugal tenha um passado
longo ligado à preservação do ambiente, através da sociedade civil, nunca institucionalmente
o ambiente teve uma real representação política, partidária ou parlamentar.
Vejamos: os Verdes sempre foram um
satélite à sombra do PCP, sem autonomia, sem influencia e onde o ambiente era tema
quando e se o PCP quisesse. Fruto desta subserviência, hoje nem representação
parlamentar têm.
O PAN surgiu como uma esperança no
sistema político português, apresentando-se como uma força defensora do
ambiente e das suas causas, mas o episódio das estufas, ferio-o de morte e hoje
mais não é que uma força sem expressão nem influencia no país.
Restam os chamados grande partidos tradicionais
que pelo já referido nunca viram o ambiente como bandeira.
Talvez, embora não seja um grande
partido, o Bloco de Esquerda aqui ou ali o tenha feito, mas com a perda de
expressão nas eleições de 2022, perde também essa possibilidade de marcar a
diferença, que aliás na verdade também nunca marcou para lá do campo discursivo.
Mas a esperança essa sim é verde e a
última morrer.
O PS governa os próximos 4 anos e
meio em maioria absoluta. Tem todas as possibilidades políticas e as
ferramentas financeiras, via PRR, para fazer o que é necessário. A história, o
futuro e os portugueses não lhes perdoarão se se perder mais esta oportunidade
para reformar o país no caminho de uma economia e um modelo de desenvolvimento
mais verde e mais sustentável.
Cabe-nos sermos exigentes na implementação
de novos paradigmas económicos e produtivos, na tomada de medidas de apoio às empresas
na transição de modelos baseados nos combustíveis fosseis para energias
renováveis, na promoção junto dos particulares de novos comportamentos,
promovendo a economia circular, mais e melhor gestão de resíduos, um uso mais racional
da água e a adoção de estilos de vidas mais sustentável no consumo e na
mobilidade.
Não podemos exigir menos que isso em
nome do futuro das próximas gerações.
Pedro Miguel Martins